As lágrimas caem como gotas cortantes e as suas palavras machucam o meu peito. Eu gostaria de ouvir mais uma vez para entender a profundidade da sua decepção. Eu queria ver os seus lábios se movendo com a fúria que as frases se formam à minha frente, queria poder tocar o silêncio que se instaurou e esmagá-lo com a força que me restou. Se eu soubesse que hoje seria o último dia, permitiria aquela dança prometida no meio do salão. Permitiria que os seus dedos percorressem o meu corpo e você sentisse o arrepio da minha pele nua. Se eu soubesse que hoje tudo ficaria cinza, como estava antes, teria te alcançado na rua depois da chuva e feito mais um comentário sobre o céu estar caindo e mudando de cor.
Quem errou fui eu em não ter aberto o coração e exposto a bagunça do quarto. Quem errou fui eu em não ter dito sim e me contentado com o sussurro do não. Errei por ter tido vergonha de aceitar que tudo está desmoronando ao meu redor, errei por não tentar explicar e por ter deixado pra trás o que deveria ter sido resolvido antes do por-do-sol. Antes de você tirar a minha capa de chuva e ter me colocado pra dormir.
Fico repassando toda a conversa, toda a lamentação, toda a desilusão. Olho para trás e só vejo um grande nada. Não sinto paz e não sinto amor. Eu sinto medo em recomeçar. Medo em deixar de enxergar. Medo de me contentar e acabar sendo, pra você, mais uma.
Os nossos dedos não se tocaram, as nossas vozes não se alcançaram, o meu corpo não relaxou com o movimento das suas mãos, não sobrou um mísero resquício de você aqui. Ficaram as palavras entrecortadas, o pedido de desculpas, a graça proibida, o desejo inconcebível e aquele último olhar. Apenas aqui, em mim.
Se eu soubesse como esse dia terminaria, eu teria apagado qualquer recordação antiga, teria respondido aos meus questionamentos e teria sumido naquele salão com você, te mostrando os passos que conheço, te dizendo as coisas que pensei em dizer e ouvir o que você desejou falar baixinho no meu ouvido.
Não restou nada, eu sei. Mas se eu soubesse antes, não teria sido tão relutante.
Cind Jami
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