Fecha a janela, meu amor, o vento está muito frio lá fora. Não, não vai embora, foi uma indireta boba, não percebeu? Era pra você pegar o cobertor em cima da poltrona e deitar comigo no sofá, beijar meu olho e me mandar descansar um pouco. Não, não estou doente, juro, é só cansaço. É sério, dessa vida que cobra tanto de mim. Dessa mulher que tenho que ser, mas não consigo. Não, minto, é cansaço de mim mesma. Desse drama que faço por coisa pequena, de cada erro à caneta numa palavra cruzada, no jogo da forca, ou num rabisco qualquer. Quero um pouco de simplicidade, ouvir o sussurro do mar, ou sentar num balanço na varanda, como aqueles filmes antigos onde não parecia existir beleza maior que uma chuva de verão compondo sua música. Ou deitar no chão no banheiro sem me preocupar com nada lá fora. Mas, por hora, preciso que me abrace nesse sofá velho enquanto imagino nós dois num penhasco, admirando o céu pintado de cor-de-rosa, enquanto o sol não se foi por inteiro... É uma das ún