Às vezes, eu me sinto numa montanha russa. Basta acordar em um dia nublado que num momento estou no céu, no topo do mundo e no mesmo instante, no fundo do poço. Pensando bem, não apenas nos dias nublados, mas todos os dias. Repetidamente, o dia todo. Sem parar.
E a noite, quando o silêncio irrompe a casa, me sinto ainda mais perdida, procuro de todas as formas abrir as portas que faltam para que a mente não sufoque as minhas emoções, o que não se encaixa dentro de mim e eu preciso dar nome, dar rosto, dar gosto. Sou atraída pela escuridão.
A maior parte da vida é boa, mas ninguém sabe o que tenho ouvido de mim mesma, as críticas que me faço, o vazio que me preenche, o medo que me toma.
Eu levo uma vida normal. Perfeitamente normal. Para as pessoas, pelo menos. Mas escondo um grande segredo. Uma grande história. Um passado. Um presente. Um nome, também. Eu escondo a mim mesma. Sou um segredo. Uma farsa, quem sabe.
Na montanha russa tudo parece divertido, quando estou com as pessoas ao redor, dou risada, faço graça e todos riem de mim, comigo. Na minha mente as horas não passam. Sou uma farsa.
A escuridão vai me abraçando e eu vou diminuindo, cabendo dentro dela.
Me sinto sempre de fora. Estranha, confusa, como quando acordo. A vida está acontecendo mas parece que eu vejo sempre do outro lado da porta, como se eu tivesse que cruzar uma linha invisível para, só assim, poder fazer parte de mim mesma, de tudo. Mas a escuridão que eu quase consigo tocar, de tão perto que me rodeia, me impede de cruzar. Eu nunca consigo ultrapassar.
Há partes seguras dentro de mim e há partes que precisarei enfrentar sozinha. Estou guardando tudo e sufocando tudo na mesma proporção. Eu preciso soltar o fôlego. Lentamente, que seja, mas preciso. Tenho que voltar a ser quem era antes de abrir essas portas. Eu preciso parar a montanha russa. Preciso descer. Me ver novamente. Nem sei quem sou. Pra onde vou.
Do alto da pedra posso ver o céu, as nuvens, a distância entre o medo e o plano de fazer dar certo, eu não quero tentar. Não sei se vou tentar, mesmo sabendo que eu mereço tudo o que quiser, a vida ainda me assusta. Segredos me custam. A escuridão sempre ganha.
As pessoas tem isso de não saberem se serão aceitas pelas outras e por muito tempo fiz de tudo para esconder o fato de que sou uma pessoa informal, não sou perfeita, tenho crises, sou insegura, gosto do improvável, alimento fantasias, tenho vários motivos para esconder quem sou. E é injusto. Estou cansada de mudanças, desse sobe e desce, dessa inconstância, mas talvez seja medo. Pensei que essa sensação fosse apenas para os tímidos, só que anunciar para o mundo quem você é, é apavorante, quase ensurdecedor. Então, guardo mais um segredo. Insisto no meu silêncio, na minha devoção pela madrugada, em me ver no espelho chorando e acabo me magoando e magoando pessoas importantes também. Estou presa nessa montanha russa, roda gigante, o mundo gira, e é assim que me sinto. No fundo do poço, horas perto da lua. Estou caminhando, pelo corredor posso ver mais uma porta se abrindo, não é esperança, não é alucinação, é o meu quarto, me chamando pra perto, decerto, mais um sonho impossível.
Cind Jami
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