Agora sangra.
Posso ouvir as gotas pingando lentamente no chão, posso sentir o que me resta escorrendo por entre os meus dedos e as palavras, caladas, já não posso escutá-las.
Posso permanecer parada, estaticamente imobilizada, que nada vai acontecer ao redor.
Posso te pregar uma peça triste, que ai dentro nem uma enchente rasa vai te inundar.
Agora dói.
Posso olhar em seus olhos e vê-los marejados que já não sinto pena, sinto raiva.
Posso mesmo esperar uma boa desculpa, como outrora, mas agora não tenho tempo. Tenho medo.
Consigo refazer aquela volta de uma viagem em família mais de mil vezes em minha mente insana, mas as lembranças já não são bonitas, estão doendo, ficando roxas ao redor, porque o que aconteceu antes, machuca, corrói, me causa náuseas.
Agora chove. Transborda.
Os planos se esvaem nessa noite estrelada. Daqui de cima posso ouvir vozes ao longe, sua respiração ao meu lado, mas sinto frio. Sinto vontade de voar e acabar de vez com essa incerteza, com essa frieza.
Eu não deveria ter cedido, não deveria ter me apegado a essas migalhas, não deveria ter desatado o nó, eu não deveria ter achado que poderia mudar o seu mundo.
Então é isso. Por um orgulho ferido vivemos o que vivemos. Por falta de um abraço, você me carregou no colo, como se eu fosse o que lhe restava... Como se eu simplesmente fosse esse algo que você não conseguiu ter.
Agora me falta coragem. Coragem para rasgar as suas mentiras e prosseguir. Coragem para aceitar as coisas como elas são - doloridas.
Eu quero caminhar, me desvencilhar dessas cordas de aço que me amarram aqui. Quero esquecer aquelas conversas, as grades, a falta de respeito, a falta de sensibilidade, a falta que você me faz.
Eu não podia ter acreditado, sei que não.
O que eu vou fazer com esse mês? O que eu vou fazer com o gosto do seu beijo que ainda sinto em mim?
E todas essas marcas, como apagar do meu corpo?
Agora não me resta nada.
As lágrimas molham todo o meu peito, meu corpo treme só de imaginar o seu corpo caminhando noutra direção, seus olhos olhando para outra direção, que não seja a minha.
Dói.
Isso não deveria estar acontecendo...
Talvez eu não tenha mais forças para nada. Talvez eu não suporte esses problemas e esse seja o fim.
Não sei aceitar a idéia de que os seus pensamentos já estiveram divagando por ai.
Agora eu quero gritar. Te empurrar para longe. Sumir. Te esquecer.
Queria tentar entender o que não é para ser entendido, ou quiçá, viver em paz. Esquecer o que me rouba o sono.
Estou alguns anos mais velha desde julho, parece loucura, mas olho no espelho e o que vejo, desconheço.
O que você me sugere?
Agora o tempo está acabando e eu tenho que decidir. Cruz ou espada. Um beijo a mais, um beijo a menos. A ferida ou a cura. Cura? Já não existe... É ilusão.
Eu não sei. Não consigo sair daqui. Vou deitar e fingir que o dia de hoje foi apenas um dia como todos. Chorei, mas passou.
Isso não deveria estar acontecendo, e pior, a culpa eu já não sei de quem foi... Minha por acreditar sem ter provas suficientes para tal, sua por fazer com que eu acreditasse, só por diversão, por fuga, ou sei lá!
Agora sangra.
Posso ouvir as gotas pingando lentamente no chão, posso sentir o que me resta escorrendo por entre os meus dedos e as palavras, caladas, já não posso escutá-las...
Cind Jami (L

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